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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Mensagem de João de Araujo Filho (Caruaru, 1947 - 2012)

Quero contar a minha história que não é tão bonita, mas que pode servir para alguém aprender a não fazer o mesmo.
Nasci e cresci em Caruaru. Tinha uns 14 anos quando mudei para São Paulo. Meus pais me mandaram para que eu pudesse estudar e ter uma vida melhor daquela que tinha na Bahia. Fui morar em São Paulo com tios que já estavam estabelecidos na cidade.
Meus tios me receberam bem. Logo fui para a escola e me tornei um menino bastante difícil porque não queria estudar, só queria ficar na rua jogando bola e jogando conversa fora.  Meu tio me deu uma bronca e vi que a vida não ia ser fácil, pois estava acostumado com uma vida mais mole na Bahia. Lá só ia na escola e depois não fazia mais nada. Aqui o meu tio me arrumou um emprego para ajudar a pagar as despesas e precisei me virar para ganhar dinheiro, pois o custo de vida era muito caro. N não tinha como ficar a toa e não fazer nada.
Meus pais nunca mais vi. Ficava só na casa de meus tios até que me casei e criei a minha família.
A vida não era fácil. Tinha muita dificuldade para trabalhar, ficava pouco no serviço e logo queria sair para outro. Não tinha parada, a vida foi ficando muito difícil, pois os filhos foram aparecendo e a responsabilidade aumentando.
Que duro foi perceber que não conseguia ganhar dinheiro que nem os meus amigos que já estavam com a vida ajeitada e eu sempre batendo cabeça de um emprego para outro.

A falta de estudo me prejudicou muito, pois tudo precisava da tal escolaridade que eu não tinha. Desisti de ir na escola logo depois que cheguei da Bahia. Isso me fez um burro que não sabia nada e assim só conseguia emprego ruim, que precisava ficar a noite acordado ou trabalhar no sol lascado.

A vida não foi fácil não e minha mulher começou a beber porque via que eu não conseguia trazer dinheiro para casa. Tinha 4 filhos e não conseguia me virar sozinho, ela também teve que trabalhar para ajudar.
Um filho cuidava do outro para que ela saísse e fosse trabalhar de doméstica enquanto o menino mais velho olhava os menores. Com isso, também comecei a beber todos os dias para esquecer a vida e isso piorou muito rápido. Tinha dias que não tinha o que comer e era duro ver as crianças com fome e sede sem ter o que dar. Minha mulher ficava desesperada com aquilo e bebia para não escutar o choro das crianças. Eu ia no vizinho pedia um pouco de leite para ver se acalmava o choro.

Assim foi até que os filhos cresceram um pouco e começaram a trabalhar para se sustentarem. Os dois mais velhos agora estão bem, já tem os seus empregos e já tem as suas famílias. Os outros dois já estão fazendo faculdade, pois conseguiram trabalhar e estudar. Aquela vida de miséria acabou.

A minha mulher também desencarnou já faz um tempo e estamos os dois deste lado. Cada um está em um lugar para nos tornarmos mais responsáveis, pois pusemos os filhos no mundo e não conseguimos sustenta-los. Sorte que a misericórdia Divina os ajudou e hoje estão bem melhor.
Essa é a minha história. Se alguém quiser ler fique a vontade, porque pode ser instrutiva para alguém que não faça igual a mim, que não fiz nada na vida. Procure ler mais e estudar para se alguém melhor. Que assim seja.